As bases psicológicas e sociológicas da psicologia social
Para
Wilhem Wundt, o método experimental é o adequado à investigação dos processos
básicos como a sensação e associação, mas somente a observação deve ser usada para
compreender os processos mentais superiores. Esta por sua vez, deve ser
realizada através do estudo dos produtos ou artefatos culturais da vida social:
arte, linguagem, hábitos culturais, ética, etc. Porém o aspecto social de seus
trabalhos foi relegado a um segundo plano. Mas a sua obra contém análises detalhadas
da linguagem humana, dos mitos, da religião, sobre a cultura, a história, a
ética, as leis e as artes; sendo um verdadeiro manual de procedimentos de
observação. Para Farr (1999), uma moderna revisão de sua obra identifica sua
influência na também emergente ciência social de cientistas como Durkheim
(1858-1917).
Émile
Durkheim centraliza seus esforços na discussão com as ciências, buscavam a
parte para compreender o todo, e para tanto, usavam a Psicologia, por exemplo,
para analisar o homem enquanto membro da sociedade. Tais ciências buscavam suas
formas de compreensão em um modelo empirista que toma como ponto de partida o
homem, para aplicar suas teorias ao conhecimento do meio social.
Durkheim
tentou colocar a Sociologia no rol das ciências empíricas e objetivas
estabelecendo um método que fosse próprio dessa nova vertente do conhecimento. Em seu livro “As Regras do Método
Sociológico” descreve as regras que considera para estudar os fatos sociais.
Resumidamente, podemos enumerar os seguintes passos:
1ª) O
pesquisador observar os fatos sociais como coisas, nesse caso, como coisas
sociais. Ou seja, é preciso adotar uma atitude mental, observando o fato de
fora para dentro. Considerando que fato social é um fenômeno coletivo. É o
resultado da vida comum. O autor propõe isolar os fatos que, para ele, possuem
uma realidade objetiva e, portanto, são passíveis de observação externa.
Foi
conduzindo o seu pensamento por essa vertente que Durkheim considerou que o
conhecimento dos fatos sociológicos deve vir de “fora”, de uma observação
empírica. Ele propõe que para a validade da explicação do fato social é
necessário ao observador estar acima de todos os sentimentos, emoções e juízos
de valor.
2ª)
Afastar-se de todas as pré-noções. É necessário trabalhar o fato social em si,
afastando todas as ideias pré-estabelecidas acerca do fenômeno a ser
investigado.
3ª)
Definir claramente as coisas de que se quer tratar;
4ª)
Estudar os fatos sociais através de suas formas nas quais se apresentam,
isolados de suas manifestações individuais. Ou seja, é preciso considerar os
fatos sociais em seus aspectos mais gerais e comuns, não em suas formas
individuais;
5ª)
Entender que um fato social é normal para um determinado tipo social,
considerado numa fase determinada de seu desenvolvimento, quando ele se produz
na média das sociedades dessa espécie, consideradas na fase correspondente de
sua evolução;
6ª)
Mostrar que a generalidade do fenômeno se deve às condições gerais da vida
coletiva, no tipo social considerado;
7ª)
Fazer a verificação quando esse fato se relaciona a uma espécie social que
ainda não consumou a sua evolução integral.
8ª)
Pesquisar separadamente a causa eficiente que o produz e a função social que
ele cumpre;
9ª) A
causa determinante de um fato social deve ser buscada entre os fatos sociais
antecedentes e não entre os estados das consciências individuais;
10ª) A
origem primeira de todo processo social de alguma importância deve ser buscada
na constituição do meio social (volume + densidade: número de indivíduos e
intensidade das interações entre eles).
Para
superar o discurso filosófico de que o particular explicava o universal, era
necessário que a Sociologia estabelecesse fundamentos que dotassem de realidade
os fenômenos sociais. Era preciso que a vida coletiva fosse caracterizada por
uma realidade particular e independente.
Assim,
foi delineando esse trajeto que Durkheim observou que o fenômeno social possuía
características que o respaldava na condição de um acontecimento distinto de
outros. Por exemplo, fatos sociais
exteriores e anteriores as consciências individuais exercem sobre o indivíduo
uma coerção. Deste modo, esses fenômenos surgem como uma força independente do
homem enquanto ser individual. Por tal perspectiva, Durkheim considerou a
sociedade como ponto de partida, historicamente anterior e superior ao
indivíduo, para se explicar o social.
Segundo
Durkheim, a garantia de uma sociedade harmônica repousa na existência de algo
que é comum a todos os indivíduos, por exemplo, uma linguagem, um sistema de
crenças, leis etc. São essas condições comuns e impostas a todos os indivíduos
que garantem a manutenção da sociedade e fazem com que os indivíduos possam
conviver harmoniosamente como sendo um todo. O indivíduo passa, então, a
depender da sociedade; e desta, ele absorve os valores morais que conduzem sua
convivência no universo social. Assim ele elege a sociedade como princípio e
fio condutor para a compreensão do indivíduo enquanto ser social. E então os
fatos sociais não irão mais ser explicados com base em fatos psíquicos individuais.
A relação entre eles passa a ser buscada apenas enquanto analogia. O homem
tomado enquanto unidade, afastado das relações sociais, para Durkheim, passa a
ser uma abstração e o estudo do individuo uma tarefa para a Psicologia.
De acordo com Durkheim, possuímos duas
consciências: ‘Uma que é comum com todo o nosso grupo e, por conseguinte, não
representa a nós mesmos, mas a sociedade agindo e vivendo em nós. E outra, que,
ao contrário, só nos representa no que temos de pessoal e distinto, e isso é o que
faz de nós um indivíduo. ’
Essa
distinção entre as consciências é peça chave para o que veio a ser a base para
a construção do conceito de representações individuais e coletivas. Durkheim se
contrapõe às ideias de Comte e Spencer, criticando as visões psicológicas dos
fenômenos sociais. Para ele é a consciência coletiva que produz um mundo de
sentimentos, ideias e imagens; que independem da maneira pela qual cada
indivíduo em particular venha a manifestá-las.
Já as
representações coletivas partem dos indivíduos associados, mas não dependem
deles, assim como não pode existir sem eles e também não desaparecem quando
esses mesmos indivíduos deixam de existir. As representações coletivas que se
estabelecem como trama da vida social, tem origem nas relações que se formam
entre os estados de consciência dos indivíduos combinados ou em grupos. Pode-se
dizer que as representações coletivas são exteriores com relação às
consciências individuais porque derivam da cooperação desses indivíduos.
Essas representações
se formam a partir do momento em que os sentimentos privados se combinam, sob a
ação de forças sui generis derivadas da associação dos indivíduos. A integração
de várias consciências individuais vai resultar em algo que é composto pela
síntese do todo, que tem a força de ultrapassar a parte, ou seja, o indivíduo.
É assim que percebemos o porquê dela ser composta pela reunião das partes. A
partir de então, as partes não possuem mais poder sobre ela.
Considerações finais
O
estudo da sociologia tem fundamental importância para a formação profissional
do psicólogo. Sempre precisamos olhar para o passado, e compreendê-lo para
conseguirmos realizar o presente e planejar o futuro.
Com a
sociologia não é diferente. Precisamos tomar ciência de como ela se desenvolveu
ao longo dos anos, quais os avanços e retrocessos que sofreu para entender a
sociedade de hoje. Hoje temos acesso aos conhecimentos que propiciarão a
evolução da sociedade do futuro.
Sabemos
que o individuo sempre será a resultante de seus processos psicológicos
individuais somados aos processos sociais da sociedade onde está inserido.
Portanto a sociologia, a compreensão do meio onde vivemos é de extrema
importância para a formação profissional do psicólogo. O estudo da psicologia
social ajuda a compreender o mundo em que estamos inseridos, as realidades dos
futuros pacientes e como se modificam os códigos de ética e comportamento ao
longo do tempo. Temos uma sociedade
formada pela fusão de individualidades e seus aspectos psicológicos individuais
se fundem também criando os aspectos psicológicos representativos da sociedade.
O
trabalho de Durkheim se distingue, dentre outros aspectos, por proporcionar um
movimento conceitual que se caracteriza pela passagem da consciência individual
para as representações coletivas que é determinante na sua análise sociológica.
O autor
explica a origem da coexistência, no mesmo sujeito, de seres de atitudes
diversas. Apresenta aspectos que fundamentam a afirmação de que o indivíduo
possui uma concepção particular a cada ser, ou seja, todo indivíduo em
particular constrói ideias próprias, reservadas a cada ser unitário; e outra
que garante a convivência desse ser unitário em sociedade; essas noções são
decisivas para compreensão de sua Sociologia. Desta feita, deve se ter em mente
não apenas a noção de Durkheim de sociedade, mas também a de indivíduo para
compreender de modo mais amplo os seus principais conceitos.
Para
constituir uma Sociologia realmente científica, o primeiro passo dado pelo
estudioso francês, foi definir claramente o objeto dessa nascente ciência e lhe
dar fundamento. A partir de então, os fatos sociais passaram a ocupar o cerne
de suas ideias apoiados em conceitos, métodos e teorias que lhe conferiam
fundamento.
Dessa
forma, percebemos que, para Durkheim, o procedimento mais epistemologicamente
adequado para a Sociologia se dá por meio da experiência coletiva, categoria
que abrange a totalidade e possui uma natureza diferente das experiências
individuais, isoladas, percebidas em cada indivíduo unitário.
Leia a parte I do trabalho aqui.
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